Intérpretes do pensamento desenvolvimentista

Cristovam Buarque

Resumo


A entrevista com Cristovam Buarque tinha sido pensada antes das manifestações que tomaram conta das ruas do país em junho passa­do. Afinal, cumpríamos uma orientação antiga de reunir nos Cadernos do Desenvolvimento depoi­mentos de representantes do pensamento desen­volvimentista no Brasil e no mundo. Entretanto, ao nos receber em Brasília, em pleno Congresso Nacional, no início de julho, não haveria como separar o político, o senador da República, o intelectual, o defensor intransigente da educação básica de qualidade e de novas prioridades para o desenvolvimento nacional. Assim aconteceu.
Cristovam Buarque nasceu em Recife, em 20 de fevereiro de 1944. Seus pais trabalhavam em uma tecelagem, o que os colocava na condição de um casal de classe média baixa. Ainda na capital per­nambucana, optou pela graduação em Engenharia Mecânica, sendo a primeira pessoa da sua famí­lia a ingressar em uma universidade. Na Escola de Engenharia abraçou as ideias de Celso Furtado, criador da Sudene e inspirador de toda uma gera­ção de jovens nordestinos. No período de combate à ditadura militar, se envolveu com a Ação Popular (AP), de origem católica, o que o fez se aproximar de Dom Hélder Câmara, que anos mais tarde, em 1970, o ajudaria a obter uma bolsa de estudos para fazer seu doutorado em Economia na Sorbonne, em Paris.
Na volta ao Brasil, em 1979, Buarque escolheu morar no Distrito Federal e lecionar no Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), atendendo ao convite de Edmar Bacha. A par­tir de então terá uma trajetória pessoal sempre muito vinculada à capital da República, seja como primeiro reitor eleito da UnB (1985-1989), seja como governador do Distrito Federal (1995- 1998), ou como senador da República (2003- 2010 e 2010-2018).
Na esfera política, como é natural, existem ganhos e perdas. A derrota na eleição para governador do Distrito Federal, em 1998, talvez tenha sido sua maior frustração. A reeleição para o Senado Federal, em 2010, pela bancada de Brasília, mos­tra o reconhecimento da cidade que o acolheu. Suas escolhas partidárias foram duas: PT (1990- 2005) e PDT (2005-presente). Mesmo derrotado à Presidência da República, em 2006, contribuiu de forma obsessiva para que os brasileiros refle­tissem sobre o sistema público de educação. No Senado Federal, Cristovam Buarque tem ocupado lugar de destaque, tendo já presidido a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa e a Comissão de Educação, Cultura e Esportes.
Como governador do Distrito Federal, será lem­brado como criador do Programa Bolsa-Escola, iniciativa que servirá de referência para o governo federal a partir de 2001, e que fortaleceu no país a ideia de que o rompimento do ciclo de reprodução da pobreza depende de avanços na escolaridade, de investimentos na educação básica e de maior qua­lidade da escola pública.
Entre seus inúmeros livros podemos destacar “A Revolução na esquerda e Invenção do Brasil” (1992), “A Revolução nas Prioridades – da moder­nidade técnica à modernidade ética” (1994), “A Segunda Abolição – um manifesto-proposta para a erradicação da pobreza no Brasil” (1999), “Educação é a solução. É possível!” (2011) e “Reaja” (2012). Em todos eles o compromisso de desafiar o status quo, de pensar soluções que conciliem o cres­cimento econômico e a inclusão social, e de abraçar muitas vezes uma causa, ainda que sem vislumbrar o contexto histórico para realizá-la.
Nesta entrevista Cristovam Buarque fala de suas escolhas pessoais, políticas e intelectuais. Certamente os desafios do desenvolvimento brasi­leiro tomaram lugar de destaque na conversa. Mas também houve espaço para a discussão do novo economista, da ruptura necessária com certa forma de fazer política, e dos caminhos possíveis para os jovens deste e de outros países.


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