Desenvolvimento, instituições e atores sociais
Resumo
Na tarde em que deu esta entrevista a Cadernos do Desenvolvimento, o professor Ignacy Sachs chegou de São Paulo ao meio-dia, almoçou rapidamente com dois grandes amigos economistas, o paulista Luiz Carlos Bresser-Pereira e o indiano Deepak Nayyar — os três eram convidados do congresso internacional “Desenvolvimento e crise: novos desafios para o desenvolvimento”, organizado pelo Centro Celso Furtado na cidade do Rio de Janeiro — e, sem nenhuma pausa, enfrentou três horas de gravação, sentado numa poltrona que era a mais confortável da sala mas um tanto inadequada para quem sofria de uma crise na coluna que quase o impedira de tomar o avião. No dia seguinte, depois de proferir uma instigante conferência, aproveitando o mote dos 350 anos do nascimento de Jean-Jacques Rousseau para pregar a necessidade de se repensar um novo “contrato social”, embarcou para São Paulo. Este é o ritmo de Ignacy Sachs, 85 anos, uma vida dedicada ao desenvolvimento em todas as suas vertentes, sendo a mais conhecida de seus inúmeros alunos e leitores a dimensão ecológica. Não à toa Sachs é considerado o inventor da expressão “ecodesenvolvimento”: foi quem lhe deu seu verdadeiro conteúdo. Para quebrar o ritmo de suas seguidas viagens e compromissos, toda vez que vem ao Brasil ele não dispensa uma pausa numa praia do Nordeste. Desta feita, com sua mulher, Viola, e os bisnetos passou duas semanas “num paraíso chamado Praia do Toque”, a duas horas de carro de Maceió, “terra rústica, com uma lagoa muito bonita, uma pequena pousada”. Ignacy Sachs nasceu em Varsóvia e, no início da Segunda Guerra, veio com a família para o Brasil. Aqui Ignacy conheceu Viola, também polonesa e refugiada, com quem se casou e teve dois meninos — a menina nasceu na Índia. Em 1954 voltou para a Polônia socialista, onde trabalhou com dois expoentes da economia, Oscar Lange e Michal Kalecki, seu maître à penser. Doutorou-se em economia na Universidade de Délhi. Em 1968 a vaga de antissemitismo que varreu a Polônia o expulsou de seu país natal, forçando-o a um segundo exílio, agora político, na França, onde vive. Em Paris foi professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, onde dirigiu dezenas de teses de alunos brasileiros e criou o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, que dirige até hoje. Seus livros mais recentes publicados no Brasil são Caminhos para o desenvolvimento sustentável, Inclusão social pelo trabalho e A terceira margem, em busca do ecodesenvolvimento, este suas memórias. Esta entrevista retoma o tema-síntese de Ignacy Sachs: o desenvolvimento, a partir de suas experiências cruzadas no Brasil, na Polônia, na Índia, na França, e com a sempre inseparável visão humanista e pluridimensional que marca sua trajetória.
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