Editorial | Nº 10

Ricardo Ismael

Resumo


Os Cadernos do Desenvolvimento, nesta décima edição, continuam privilegiando a publicação de trabalhos de pesquisadores de todo o país, aprovados por pareceristas, tendo como foco o tema do desenvolvimento e suas diferentes dimensões. Nessa oportunidade, destacamos um conjunto de artigos que refletem sobre a obra e o pensamento de Celso Furtado, a respeito do debate envolvendo o desenvolvimento brasileiro nos anos recentes e que tratam de algumas questões contemporâneas que desafiam a teoria econômica. O leitor irá também perceber que parte dos textos privilegia a perspectiva institucional, recorte analítico que ganha relevância em um mundo tomado por mudanças aceleradas e ainda pouco compreendidas.    

A seção “Desenvolvimento no mundo contemporâneo: agenda, interdisciplinaridade e perspectiva comparada” foi pensada como lugar que pudesse abrigar contribuições originais e instigantes, sem perder de vista o rigor acadêmico e o desenrolar do debate público nacional e internacional. Nada mais apropriado para que esses Cadernos do Desenvolvimento prestassem aqui uma homenagem ao economista, pesquisador e professor Antonio Barros de Castro, sócio fundador e membro do Conselho Deliberativo do Centro Celso Furtado, mestre de sucessivas gerações de economistas e referência obrigatória quando se discute as credenciais de um servidor público.

Nesse momento, portanto, publicamos a conferência proferida pelo professor Antonio Barros de Castro, no BNDES, em 3 de junho de 2011, intitulada O Brasil e os desafios da China, tema que o mobilizava nos últimos anos de vida. A transcrição de sua palestra foi editada por Rosa Freire d’Aguiar e revista por sua viúva, a professora e também economista Ana Celia de Castro, a quem muito agradecemos a autorização para a publicação.

Ainda na mesma seção registramos com satisfação duas outras comunicações.  Pierre Salama, professor emérito do Centro de Economia da Universidade de Paris 13, na França, escreve sobre China-Brasil: industrialização e “desindustrialização precoce”, texto em que procura discutir as razões do enfraquecimento da indústria brasileira no período recente, chamando a atenção para a inadequação da nossa política cambial e política industrial em comparação com o gigante asiático.

Outro artigo é de Deepak Nayyar, professor de economia da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Délhi. Sob o título de Trabalho, Subsistência e Direitos, o autor aborda as mudanças no mundo do trabalho e seus desdobramentos sobre os sindicatos e a concepção dos direitos, tendo como pano de fundo os últimos 25 anos do século XX. Tempo histórico que se caracterizava, segundo Nayyar, por “um entusiasmo crescente pelo liberalismo” nos Estados nacionais e pelo “vigor da globalização” no contexto internacional.    

Os Cadernos do Desenvolvimento entrevistaram para esta edição duas grandes expressões do pensamento social brasileiro. Ambas freneticamente envolvidas com o debate sobre as condições de modernização do país no novo século. Ambas serenamente convictas, podemos dizer, da necessidade de criarmos aqui e em todo lugar “um ambiente no qual todas as pessoas possam expandir suas capacidades, e no qual as oportunidades possam ser aumentadas tanto para as gerações de agora como para as do futuro” (Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, 1994).

Apresentamos a entrevista de Bertha Becker, uma das nossas maiores geógrafas, professora emérita da UFRJ e integrante da Academia Brasileira de Ciências. Pioneira e inovadora nos estudos sobre a Amazônia brasileira, Becker não tem poupado esforços para compreender as transformações e desafios dessa região, ainda desconhecida para grande parte dos acadêmicos, das elites políticas e da sociedade em geral. Seus entrevistadores foram Marcos Formiga, Rosa Freire d’Aguiar Furtado e Ricardo Ismael.

Entrevistamos também o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e Amazônia Legal e ex-ministro da Fazenda, em ambos os casos no governo Itamar Franco, e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Ricupero discorreu sobre sua trajetória na diplomacia brasileira, sua participação nos governos nacionais durante a redemocratização, a atuação à frente da Unctad e sobre os desafios do mundo contemporâneo. Seus entrevistadores foram Luiz Bernardo Pericás, Rosa Freire d’Aguiar Furtado, Ricardo Bielschowsky e Ricardo Ismael.

No “Dossiê Celso Furtado” publicamos um texto ainda inédito no Brasil, intitulado Retorno à visão global de Perroux e Prebisch. Escrito originalmente para a VI Conferência François Perroux, para qual Celso Furtado foi o economista de renome internacional convidado, a conferência foi proferida no prestigioso Collège de France, no dia 15 de junho de 1994.

Sobre a conferência de Celso Furtado, o leitor poderá desfrutar dos comentários preciosos de Carlos Brandão, professor do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ e Coordenador do Observatório do Centro Celso Furtado para o Desenvolvimento Regional, sistematizados no instigante texto Estruturas, hierarquias e poderes: Furtado e o retorno à visão global de Prebisch e Perroux. 

Duas resenhas fecham este número dos Cadernos do Desenvolvimento. A primeira, de Luiz Roberto Cunha, é sobre o livro “Banco Central do Brasil: o leviatã ibérico: uma interpretação do Brasil contemporâneo”, de Eduardo Raposo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio. A resenha de Augusto César Pinheiro da Silva diz respeito ao livro “Nova Economia das Iniciativas Locais: uma introdução ao pensamento pós-global”, do economista e pesquisador franco-marroquino Hassan Zaoual, falecido em 2011.

Ricardo Ismael.


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