Editorial | Nº 6
Resumo
Duzentos anos depois da criação das primeiras instituições de ensino superior no Brasil, permitidas e implantadas só quando chegou a estas terras a família real portuguesa, o Brasil tem indicadores educacionais que deixam a desejar até mesmo se comparados com os dos vizinhos do continente. Se houve avanço no ensino fundamental – 97% das crianças estão matriculados –, apenas 10% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso à educação superior, e desses só 2% frequentam as universidades públicas, consideradas as melhores.
Mas não é só a política educacional que não dá conta do desafio que lhe cabe enfrentar. Outro desafio a exigir solução há decênios, talvez desde que Joaquim Nabuco apresentou uma proposta para arrostá-lo, é a injusta, senão obsoleta, estrutura agrária. Além dos que condenavam a reforma agrária por ser cara, desnecessária, lenta e violenta, agora há os que alegam que ela destrói o meio ambiente. O Brasil estaria assim retardando oportunidades de implantar um recorte fundiário novo e moderno, que diminua a concentração da propriedade da terra. Isso é tanto mais grave na medida em que com apenas 70 mil reais promovem-se o assentamento de uma família e, por conseguinte, a criação de três empregos diretos e um indireto. Quando mais não fosse, essa forma barata de criar empregos já faria da reforma agrária uma prioridade.
Duas outras questões críticas são a inovação tecnológica e o meio ambiente. Quanto à primeira, dados positivos e negativos se contrabalançam: hoje chega a 27 mil o pessoal de nível superior trabalhando em pesquisa e desenvolvimento nas empresas do país. Mas o esforço de inovação mantém-se muito aquém do desejado, como se pode concluir da leitura dos textos reunidos neste número de Cadernos do Desenvolvimento. Quanto ao meio ambiente, nestes tempos em que se acirram as polêmicas entre ambientalistas e partidários do desenvolvimento econômico a qualquer preço, e em que o Congresso aprova a regularização de ocupações de terras da União na Amazônia, a grande pergunta permanece em suspenso: o crescimento econômico do tipo que conhecemos abalará cada vez mais a natureza, a ponto de comprometer a vida dos 6 bilhões que somos?
Educação, questão agrária, inovação tecnológica, meio ambiente. Para debater cada um desses temas o Centro Celso Furtado convidou professores e especialistas, do governo e da sociedade, reunidos em seminários abertos ao público. Aqui estão seus diagnósticos, nossas perspectivas.
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