Convenções neoliberais, Basileia e o futuro dos bancos de desenvolvimento: o caso do BNDES

Helena Maria Martins Lastres, José Eduardo Cassiolato, Walsey de Assis Magalhães, Cristiane Magdalena Garcez, Dulce Correa Monteiro Filha, Marcus Cardoso Santiago

Resumo


Ao retomar a discussão sobre a situação atual e futura dos bancos de desenvolvimento (BDs), esse artigo visa examinar seus principais entraves. Focalizando a influência dos acordos de Basileia e o caso do banco brasileiro de desenvolvimento – o BNDES – argumenta-se que: as limitações derivam principalmente das condições colocadas pela “convenção financista neoliberal”, absorvida ampla e acriticamente no Brasil. Nomeadamente a aversão ao risco e ênfase ao retorno do crédito, em detrimento dos objetivos do desenvolvimento, justificam porque o BNDES não consegue financiar os agentes, atividades e territórios que mais precisam de apoio. A conclusão é que esse constitui o principal entrave à operacionalização das atuais prioridades das agendas de desenvolvimento nacional e mundial. Ao final, recomenda-se rever as vantagens e desvantagens da “padronização regulatória” e demais limitações ao cumprimento das missões oficiais dos BDs e, especialmente, à atuação futura do BNDES, face aos imperativos do desenvolvimento sustentável e inclusivo.


Palavras-chave


Bancos de Desenvolvimento; Convenção Financista Neoliberal; Acordos de Basileia; Banco Nacional de Desenvolvimento Economia e Social

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