Intérpretes do pensamento desenvolvimentista
Resumo
Foi numa tarde de dezembro, na sede do Centro Internacional Celso Furtado, no Rio de Janeiro, que o brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, um dos personagens mais influentes na decisão de criação da Embraer, concedeu esta entrevista para os Cadernos do Desenvolvimento. O brigadeiro Ferolla é formado em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e construiu uma sólida e bem-sucedida carreira profissional, tendo exercido cargos de grande importância e destaque, como o de diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), de 1989 a 1992, e o de ministro do Superior Tribunal Militar, apenas para citar alguns.
Nacionalista convicto, o brigadeiro conversou com os entrevistadores por mais de quatro horas sobre a criação do CTA, o desenvolvimento dos primeiros protótipos de aviões para a Força Aérea Brasileira, a importância de parcerias internacionais para o desenvolvimento, em nosso país, de know-how e de know-why na fabricação de aviões e em setores estratégicos da matriz industrial, e a criação da Embraer e sua privatização. Ele mostrou como o sucesso da Embraer, que inseriu o país em um mercado altamente competitivo como o da aviação, foi fruto de um arranjo bem articulado entre o governo e o CTA, com o apoio da mão de obra altamente qualificada formada pelo ITA. Assim, a entrevista concedida com vasta dose de energia e entusiasmo, nos revela que para produzir inovação em escala significativa, tão importante quanto ter centros de formação, é criar empresas que interajam com os centros de pesquisa e as universidades. Com sua larga experiência de homem público, participando de importantes decisões que influenciaram os rumos do desenvolvimento de produtos e processos inovadores do ponto de vista do conteúdo tecnológico, apresentou sua visão crítica ao processo de desnacionalização da indústria brasileira e às barreiras que as potências estrangeiras impõem ao país para o desenvolvimento de tecnologia nacional.
Esta entrevista é bastante oportuna na atual conjuntura econômica brasileira, em que o avanço excessivo da desindustrialização é reconhecido como prejudicial ao desenvolvimento sustentado do país por especialistas de todas as vertentes de pensamento econômico. As opiniões francas e bem fundamentadas do brigadeiro Ferolla convidam à reflexão sobre caminhos alternativos que o país deve buscar para recuperar sua capacidade de crescer, apoiado em aumento contínuo de produtividade, condição essencial para ampliar sua capacidade competitiva e reduzir sua dependência externa. [CONTINUA]
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