Editorial | Nº 11

Ricardo Ismael

Resumo


Os Cadernos do Desenvolvimento chegam à sua décima primeira edi­ção contemplando inicialmente uma série de artigos de pesquisa­dores da Região Nordeste do Brasil, que refletem de alguma forma a evolução da produção dos programas de pós-graduação localiza­dos nos estados do Ceará, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Para isso, contamos com a colaboração de Inez Batista da Silva Castro, professora da Universidade Federal do Ceará. As contri­buições reunidas nesta oportunidade, envolvendo o âmbito regional, formam um “Dossiê Nordeste” e procuram, assim, estimular novas reflexões sobre um tema que ainda desafia o pensamento brasileiro.
Estamos publicando também mais dois artigos aprovados por parece­ristas. Um deles procura comparar a principal obra de Alfred Chandler, Strategy and Structure, com as reflexões de Celso Furtado sobre a teo­ria da dependência no quadro da gestão estratégica. O outro aborda o debate entre estruturalistas e monetaristas em torno das metas de inflação, dos bancos públicos e da coordenação de política monetária.
A seção “Desenvolvimento no mundo contemporâneo: agenda, inter­disciplinaridade e perspectiva comparada” traz em destaque duas comunicações de renomados pesquisadores estrangeiros. A pri­meira é de Catherine Sauviat, integrante do Institut de Recherches Economiques et Sociales (Ires), sediado na França, instituição voltada para o mundo do trabalho, em especial ligada às organizações dos trabalhadores franceses. A autora reflete sobre o movimento social “Occupy Wall Street”, ocorrido recentemente nos Estados Unidos, no rastro da crise econômica e financeira que marcará toda uma geração.
Outra contribuição vem de Suranjit Kumar Saha, pesquisador do Departamento de Geografia da Swansea University, no Reino Unido, referência no debate sobre globalização, desenvolvimento local e regional e em estudos sobre pobreza. O autor discute a relação entre Brasil e Índia, dois gigantes desse novo mundo que se descortina, marcados por processos históricos originais e sociedades distintas, mas que encontram no século XXI a oportunidade de articular seus interesses convergentes.
Os Cadernos do Desenvolvimento abrem espaço neste momento para a entrevista do economista Ignacy Sachs, professor honorário da École des Hautes Études en Sciences Sociales, da França, e um dos mais respeitados pensadores contemporâneos sobre os (des)cami­nhos do desenvolvimento sustentável com inclusão social. Podemos dizer que Sachs dedicou sua vida aos estudos sobre desenvolvimento em todas as suas vertentes, sendo atualmente a mais conhecida de seus inúmeros alunos e leitores a ênfase na dimensão do “ecode­senvolvimento”, expressão consagrada de forma pioneira nos seus escritos e em suas palestras.
A entrevista foi realizada por ocasião do I Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2012, e os entrevistadores foram Helena Lastres, Marcos Formiga, Rosa Freire d’Aguiar Furtado e Ricardo Ismael.
O “Dossiê Celso Furtado” apresenta o texto intitulado “O Golpe de 1964 e o Nordeste”, no qual Furtado, 40 anos depois (setembro de 2004), reflete sobre a trágica interrupção da democracia no Brasil nos anos 1960. Inflexão ainda mais perversa no Nordeste brasileiro, por abolir o movimento renovador que havia se instalado com vigor na região.
Para comentar o depoimento de Furtado ora publicado, convidamos Marcos Costa Lima, ex-presidente da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e professor da Universidade Federal de Pernambuco. Como de costume, não faltam nos seus comentários precisão histórica e imaginação analítica.
Duas resenhas fecham este número dos Cadernos do Desenvol-vimento. Uma delas, sob a responsabilidade de Vera Cepêda, pro­fessora da Universidade Federal de São Carlos, aborda a coletânea de artigos do escritor norte-americano John dos Passos reunidos no livro “O Brasil em movimento”, recentemente reeditado no Brasil. A resenha apresenta o autor como um observador estrangeiro atento em relação à fase áurea do nacional-desenvolvimentismo, ao menos no seu período democrático, com toda a sua obsessão por novas estradas, cidades e construções.
A outra resenha trata de um conjunto de ensaios reunidos em “Textos escogidos”, de Karl Polanyi, tendo sido elaborada por Pedro Cláudio Cunca Bocayuva, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. A resenha procura localizar Polanyi como um dos mais brilhantes críticos do liberalismo econômico consa­grado no século XIX, e que de certa forma foi retomado no último quarto do século passado. Mais do que isso, enfatiza a importância para o autor do “plano dos valores para além do determinismo da escassez dada pela mercadorização do mundo presente na aposta mercantil universalista”.


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