Análise das políticas industriais brasileiras no período de 2003 a 2015 à luz da teoria neoschumpeteriana: um balanço propositivo
Resumo
Este artigo tem como intuito demonstrar que boa parte dos resultados pretendidos das políticas industriais executadas entre 2003 e 2015 não chegaram a ser alcançados de maneira satisfatória, principalmente com relação às metas de adensamento para a indústria de transformação no Brasil. Tal análise dar-se-á por meio da bibliografia neoschumpeteriana e pela observação de alguns dados da indústria de transformação brasileira. Acerca deste último, foram utilizadas informações como de coeficientes de insumos importados, coeficiente de penetração de importações e exportações líquidas. Concluiu-se que os resultados das políticas industriais no período supracitado foram modestos por dois principais fatores: i) as políticas industriais explícitas e implícitas, especialmente a macroeconômica, apresentavam direções distintas; e ii) a grande maioria das políticas industriais não indicava caráter sistêmico baseado na teoria neoschumpeteriana de sistemas de inovação. Isto é, não se considerava a inovação como um processo não linear, cumulativo e que depende de aspectos históricos e geográficos.
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