Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado: método, esquema analítico e projeto político

Autores

  • Pedro Paulo Zahluth Bastos Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave:

Método Histórico-Estrutural, Abdução, Raúl Prebisch, François Perroux, Desequilíbrios Regionais

Resumo

O artigo discute o método, o esquema analítico e o projeto político da obra magna de Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil. Quanto ao método, defendo primeiro que Furtado aprofunda e mesmo consolida o método histórico-estrutural proposto, ainda embrionariamente, por Raúl Prebisch; segundo, que a abdução é o recurso lógico mais usado por Furtado (e não a indução). Quanto ao esquema analítico, defendo que Furtado, a partir do método histórico-estrutural e da abdução, vincula os conceitos de estrutura, poder e espaço, criativamente, a partir de uma convergência de duas influências, Raúl Prebisch e François Perroux (e não de Max Weber ou Roberto Simonsen). Quanto ao projeto político, defendo que era menos o de propor o planejamento da industrialização do que justificá-lo historicamente; e, sobretudo, o projeto era atacar os desequilíbrios regionais brasileiros, particularmente no Nordeste.

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Biografia do Autor

Pedro Paulo Zahluth Bastos, Universidade Estadual de Campinas

Professor Associado (Livre Docente) da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia, Departamento de Política e História Econômica. Doutor em Ciências Econômicas, Mestre em Ciência Política e Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas.

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Publicado

2020-12-31

Como Citar

Zahluth Bastos, P. P. (2020). Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado: método, esquema analítico e projeto político. Cadernos Do Desenvolvimento, 15(27), 227–262. Recuperado de https://cadernosdodesenvolvimento.org.br/cdes/article/view/532

Edição

Seção

Formação Econômica do Brasil