Do governo digital à plataformização do SUS como mercado da “ajuda ao desenvolvimento”
DOI:
https://doi.org/10.29327/2148384.2025.827Palavras-chave:
Governo Digital, Saúde Digital, Plataformização, CapitalismoResumo
A implementação da saúde digital como serviço público caminha acompanhada da digitalização de outras áreas governamentais. Tendo em vista o que se passou a chamar de governo digital, sua expansão possui relação com rearranjos do Estado em face de crises do capitalismo. A utilização de infraestruturas privadas comumente denominadas de plataformas de computação em nuvem é compreendida como um elemento central dessa reconfiguração do Estado e também alcançou o Sistema Único de Saúde (SUS). Este trabalho traça, assim, um panorama a esse respeito, relacionando o processo de plataformização na saúde brasileira a políticas públicas pavimentadas em meio à influência internacional. Em especial, aborda o caso da relação diplomática entre Brasil e Reino Unido na saúde digital, a fim de reconhecer a privatização como aspecto dinamizador de políticas que se voltam à chamada plataformização da saúde. Questiona-se, por fim, os caminhos ao desenvolvimento propostos por países e organizações que direcionam as tendências globais em termos de digitalização.
Downloads
Referências
ALAUZEN, M. L’État plateforme et l’identification numérique des usagers. Le processus de conception de FranceConnect. La Découverte, n. 213, p. 211-239, 2019.
BENJAMIN, K.; POTTS, H. W. W. Digital transformation in government: Lessons for digital health? Digital Health, 2018. Available at: https://doi.org/10.1177/2055207618759168.
BNDES. Estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil”. Portal BNDES, nov. 2017. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/pesquisaedados/estudos/estudo-internet-das-coisas-iot/estudo-internet-das-coisas-um-plano-de-acao-para-o-brasil. Acesso em: 15 jul. 2023.
BOSCHINI, A.; OLOFSGARD, A. Foreign aid: An instrument for fighting communism? The Journal of Development Studies, v. 43, n. 4, p. 622-648, 2007. Available at: https://citeseerx.ist.psu.edu/document?repid=rep1&type=pdf&doi=0ce01ed8a7c305fdf49f070ea6f11f84cab5fe8f. Accessed at: 15 July 2024.
BOYER, R. Teoria da Regulação. Os Fundamentos. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Relatório ao Projeto de Lei n.º 7.843, de 2017, 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1657351&filename=Tramitacao-PL%207843/2017. Acesso em: 15 jul. 2024.
BRASIL. Ministério da Economia. Pregão Eletrônico n.º 29/2018, 2018a. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/acesso-a-informacao/licitacoes-e-contratos/licitacoes-e-contratos/licitacoes/pregao/2018/pregao-eletronico-no-29-2018. Acesso em: 15 jul. 2024.
BRETAS, N. L. Desenvolvimento institucional digitalmente mediado e Estado de bem estar social: o caso da Previdência Social no Brasil (1988 a 2013). 2016. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
BRUNHOFF, S. The State, Capital and Economic Policy. London: Pluto, 1978.
BUCKEL, S. Subjectivation and Cohesion: towards the reconstruction of a materialist theory of law. Leiden: Brill, 2021.
BYGSTAD, B.; HANSETH, O. Transforming Digital Infrastructures through platformization. Twenty-Sixth European Conference on Information Systems (ECIS2018). 2018. Available at: https://www.duo.uio.no/bitstream/handle/10852/71692/Transforming%2bDigital%2bInfrastructures-final-ECIS-BB.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Accessed at: 15 jul. 2024.
COLLINGTON, R. Disrupting the Welfare State? Digitalisation and the Retrenchment of Public Sector Capacity. New Political Economy, v. 27, n. 2, 2021.
DANTAS, A. Do socialismo à democracia: dilemas da classe trabalhadora no Brasil recente e o lugar da Reforma Sanitária Brasileira. 2014. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
DOWBOR, L. A sociedade na era digital: um outro modo de produção. Associação dos Engenheiros da Petrobrás, 18 abr. 2024. Disponível em: https://aepet.org.br/artigo/a-sociedade-na-era-digital-um-outro-modo-de-producao/. Acesso em: 4 maio 2024.
DYER-WITHEFORD, N.; KJONSEN, A. M.; STEINHOFF, J. Inhuman Power: Artificial Intelligence and the Future of Capitalism. London: Pluto, 2019.
GLOBAL Justice Now. Warning signs: the Prosperity Fund and the hijacking of UK aid, 2022. Available at: https://www.globaljustice.org.uk/wp-content/uploads/2022/10/Prosperity-Fund-report-WEB.pdf. Accessed at: 15 jul. 2024.
GUZMÁN-ORTIZ, S. M. Ética crítica y política de las tecnologías: Ciudadanías mediadas en el Estado Plataforma. Análisis de Movilidad en Línea. Cuadernos de Filosofía Latinoamericana, v. 43, n. 126, 2022.
HICKEL, J.; et al. Imperialist appropriation in the world economy: Drain from the global South through unequal exchange, 1990–2015. Elsevier, Global Environmental Change, v. 73, mar. 2022.
HIRSCH, J. Teoria materialista do Estado: processos de transformação do sistema capitalista de Estados. Rio de Janeiro: Revan, 2010.
HUANG, J; KARDUCK, A. A methodology for digital government transformation. Journal of Economics, Business and Management, v. 5, n. 6, p. 246-254, 2017.
JESSOP, B. Putting Civil Society in its Place. Governance, Metagovernance and Subjectivity. Bristol: Wiserd, 2020.
LAPAVITSAS, C. Profiting without producing: How finance exploits us all. London: Verso, 2014.
LIPIETZ, A. Mirages and Miracles: the crises of global Fordism. London: Verso, 1987.
LUGO, C. R. Estado, Direito, Revolução. São Paulo: Lavrapalavra, 2022.
MAJEROWICZ, E. A China e a Economia Política Internacional das Tecnologias da Informação e Comunicação. Geosul, Florianópolis, v. 35, n. 77, p. 73-102, 2020.
MAJEROWICZ, E. A disputa sino-estadunidense nas tecnologias da informação e comunicação. In: A China no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2022.
MAZZUCATO, M.; COLLINGTON, R. The Big Com: how the consulting industry weakens our business, infantilizes our governments, and warps our economies. New York: Penguin, 2023.
MINISTÉRIO da Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS. Política Nacional de Informação e Informática em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
MINISTÉRIO da Saúde. Sergipe. DataSUS Departamento de Informática do SUS. Boletim Conecta SUS, v. 16, versão 1, jun. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/seidigi/boletins-conecte-sus/boletim-conecte-sus-vol-16.pdf/view. Acesso em: 15 jul. 2021.
NIELSEN, M.; JORDANOSKI, Z. Digital Transformation, Governance, and Coordination in Times of Crisis: An Analysis of Australia, Denmark, and the Republic of Korea. Digital Government: Research and Practice, n. 4, p. 1-20, 2023. DOI: https://doi.org/10.1145/3604569.
OCDE. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Rethinking e-government services: user-centred approaches. 2009. Available at: https://read.oecd-ilibrary.org/governance/rethinking-e-government-services/executive-summary_9789264059412-1-en#page13. Accessed at: 15 July 2024.
OCDE. Digital government strategies for transforming public services in the welfare áreas. Paris, 2016. Available at: https://www.oecd.org/gov/digital-government/Digital-GovernmentStrategies-Welfare-Service.pdf. Accessed at: 15 July 2024.
ONU. Organização das Nações Unidas. Addis Ababa Action Agenda of the Third International Conference on Financing for Development. 2015. Available at: https://www.un.org/esa/ffd/wp-content/uploads/2015/08/AAAA_Outcome.pdf. Accessed at: 15 July 2024.
O’REILLY, T. Government as a Platform. Technology, Governance, Globalization, n. 6, p. 13–40, 2011.
PARANÁ, E. Bitcoin: A utopia tecnocrática do dinheiro apolítico. São Paulo: Autonomia Literária, 2020.
PRADO, E. Rentismo – um novo modo de produção? A Terra é Redonda, 29 abr. 2024. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/rentismo-um-novo-modo-de-producao/. Acesso em: 15 jul. 2024.
RACHID, R.; et al. Saúde digital e a plataformização do Estado brasileiro. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 28, 2023.
SAAD-FILHO, A. Value and Crisis: essas on labour, money and contemporary capitalism. Leiden: Brill, 2019.
SCHOU, J.; HJELHOT, M. Digitalization and Public Sector Transformations. Copenhagen: Palgrave, 2018.
SECCHI, L.; et al. Reformas administrativas em Portugal e Espanha: da burocracia à transição digital. Encontro Brasileiro de Administração Pública, 2022. Disponível em: https://sbap.org.br/ebap-2022/540.pdf. Acesso em: 15 jul. 2024.
SRNICEK, N. Platform Capitalism. Cambridge: Polity, 2017.
TELES, P. R. A. Parabellum: sobre o modo de se fazer a guerra pós 11 de setembro. Entropia. Revista do Laboratório de Movimentos Sociais e Mídia, v. 4, n. 8, p. 6-36, 2020.
UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho Europeu. Decisão (UE) 2022/2481, de 14 de dezembro de 2022, que estabelece o programa Década Digital para 2030. Jornal Oficial da União Europeia, 2022. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32022D2481. Acesso em: 15 jul. 2024.
VELTMEYER, H. Development and Globalization as Imperialism. Canadian Journal of Development Studies, v 26, n. 2, 2005.
VIANA, A. C. A. Transformação digital na administração pública: do governo eletrônico ao governo digital. Revista Eurolatinoamericana de Derecho Administrativo, v. 8, n. 1, p. 115-136, 2021.
WEST, S. M. Data Capitalism: Redefining the Logics of Surveillance and Privacy. Business & Society, v. 58, p. 20–41, 2019.
WOODWARD, R. Putting the “D” into the OECD – The DAC in the Cold War Years. Origins, Evolution and Future of Global Development Cooperation: The Role of the Development Assistance Committee. Bonn: Deutsches Institut fur Entwicklungspolitik, 2021.
YEUNG, K. The New Public Analytics as an Emerging Paradigm in Public Sector Administration. Tilburg Law Review, v. 27, n. 2, p. 1-32, 2023.
ZUBOFF, S. Surveillance Capitalism and the Challenge of Collective Action. New Labor Forum, v. 28, p. 10–29, 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Raquel Rachid, Marcelo Fornazin, Matheus Falcão

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista;
 - Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista;
 - Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).